sexta-feira, 3 de março de 2006

Os tijlos

A nossa casa sempre nos deu uma sensação muito boa, era realmente o que chamam de lar. Mesmo com suas paredes tortas e cerâmica velha, quebrada aqui ou acolá, tudo tinha um ar muito nosso. A idéia de nos desfazer desse lugar onde tudo de uma vida tinha acontecido nos doía os ouvidos, o zunidinho chato aparecia só de pensar que um dia pararíamos de descer aquela ladeira que nos levava ao nosso mundo comum, à nossa casa-família.
Então, todo dia, depois que apareceu a possibilidade de mudança, cada um de nós que saia, demorava um pouco mais segurando a chave na tranca da porta. Quando saia do portão velho pra rua, se virava e olhava com gosto aquelas janelas que de onde, ainda sem alcançá-las, via o céu, as nuvens, a chuva caindo escondida, mas sendo descoberta pela luz que saia do poste que se colocava sempre grande do lado de casa.
Não dá pra saber até quando as lembranças vão ficar vivas nas nossas cabeças, nem até quando nós vamos nos lembrar do sabor das gargalhadas que ecoaram naquelas paredes, mas sabemos que enquanto existirmos, não importa se pra sempre dentro ou fora dessa construção, os tijolos desse lar nunca serão vendidos.

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