segunda-feira, 5 de outubro de 2009

O sol


O sol hoje não sabia que era domingo. Aos poucos, depois de se mostrar belo e brilhante, e disposto ao amarelo e ao claro foi que percebeu. Viu que os carros não enchiam as ruas como de costume. Viu que as pessoas não andavam apressadas como nos outros dias... então começou a mudar.
A mudança aí cada um entenda da sua forma. Isso porque o sol reflete diferente para cada um. É bem como um espelho: eu nunca vou poder ver um galã de novela quando me olho no espelho, só eu mesmo. Ninguém olha para o céu e acha sempre a mesma coisa. Se olhar uma vez e, depois de três segundos, olhar de novo, tudo já terá mudado! A incerteza do que se pode ver, do que se pode encontrar na imensidão azul ou escondido atrás das nuvens, nesses pequenos intervalos entre uma olhada e outra é o que torna a vida mais fascinante; ora pode-se ganhar uma maçanzada na cabeça ora uma cagada de pombo. Nesse ponto também tenho que dizer que vai depender de cada um. Seria alguém obrigado a achar mais interessante uma maçanzada ao invés de uma cagadinha de pombo na cabeça?
Nesse mundo há de se concordar, existe de tudo um pouco ( e em algumas pessoas um pouco muito!). Dessa forma, a ultima coisa que se pode pensar é que as pessoas pensam igual, não é? (Espero que alguém no mundo esteja pensando: Se todos concordarem com esse idiota que ninguém pensa igual não estaremos então, pensando igual?)
O fato é que em muitas, várias, diversas, infinitas (e isso não quer dizer todas, só que são muito grandes) situações não existe o igual, o que existe são níveis de igualdade. Podemos pensar de forma parecida, mas nunca pensaremos igual.
E o sol, o que tem a ver com isso? Sei lá, só acho que, mesmo que ele seja uma coisa concreta e que exista mesmo e lá lá lá, como todas as outras coisas, ele não vai deixar de ser uma simples expressão do que tenho aqui dentro. E hoje eu o vi assim, perdido no tempo, achando que era uma coisa quando era outra. Deve ter se confundido com o calendário de outro planeta. Para mim, nem ele gosta do domingo.

sábado, 3 de outubro de 2009

Chuva



Quando pequeno ainda não sabia direito o que sentia ou pelo quê exatamente sentia. Ia à praia e dali observava o fim infinito do mar que se juntava, lá no horizonte perfeito em sua linearidade, ao céu de uma redondeza assustadora. E sentia que aquela grandeza toda fazia parte dele mesmo, era uma coisa que o pertencia embora não precisasse estar com ele ou dentro dele. E chorava perto da água, como se contribuísse com suas lágrimas para aquilo que era tão...
Hoje estava longe do mar, mudara-se com a família para uma cidade distante e já havia se passado alguns anos. Numa tarde comum, ao voltar da escola, passava pelos mesmos prédios de sempre, todos com sua colorida falta de cor habitual. As pessoas começavam a correr. Era chuva.
Olhando para cima, parou e sentiu aquela brisa que antecede uma boa tempestade. Esperou. Então, quando a chuva começou a lhe banhar, já não conseguia saber o que era seu e o que era do céu. Na verdade, se apropriara das lágrimas da chuva, e essa, de suas gotas. E sentiu saudades...


Na chuva
No chuveiro
É onde elas se multiplicam

É sempre melhor se entregar
Em meio a essas incontáveis gotas

Todas, ao meu redor
Se tornam nossas
Nossa dor e alegria

A rapidez, a fluidez, a quantidade...
A força, a maciez, a dor da saudade...
Toda a intensidade pode se expressar
São minhas, naquele momento
Todas as lágrimas do céu
Todas as que fogem pelos olhinhos do chuveiro
Em mim, ganham sentido!

Expressam os litros que derramo
Dentro de mim.
Expressam a correnteza que passa
As coisas que vão e
As coisas que por algum tempo
Ainda ficam.