sábado, 3 de outubro de 2009

Chuva



Quando pequeno ainda não sabia direito o que sentia ou pelo quê exatamente sentia. Ia à praia e dali observava o fim infinito do mar que se juntava, lá no horizonte perfeito em sua linearidade, ao céu de uma redondeza assustadora. E sentia que aquela grandeza toda fazia parte dele mesmo, era uma coisa que o pertencia embora não precisasse estar com ele ou dentro dele. E chorava perto da água, como se contribuísse com suas lágrimas para aquilo que era tão...
Hoje estava longe do mar, mudara-se com a família para uma cidade distante e já havia se passado alguns anos. Numa tarde comum, ao voltar da escola, passava pelos mesmos prédios de sempre, todos com sua colorida falta de cor habitual. As pessoas começavam a correr. Era chuva.
Olhando para cima, parou e sentiu aquela brisa que antecede uma boa tempestade. Esperou. Então, quando a chuva começou a lhe banhar, já não conseguia saber o que era seu e o que era do céu. Na verdade, se apropriara das lágrimas da chuva, e essa, de suas gotas. E sentiu saudades...


Na chuva
No chuveiro
É onde elas se multiplicam

É sempre melhor se entregar
Em meio a essas incontáveis gotas

Todas, ao meu redor
Se tornam nossas
Nossa dor e alegria

A rapidez, a fluidez, a quantidade...
A força, a maciez, a dor da saudade...
Toda a intensidade pode se expressar
São minhas, naquele momento
Todas as lágrimas do céu
Todas as que fogem pelos olhinhos do chuveiro
Em mim, ganham sentido!

Expressam os litros que derramo
Dentro de mim.
Expressam a correnteza que passa
As coisas que vão e
As coisas que por algum tempo
Ainda ficam.

Um comentário:

Anônimo disse...

"Expressam os litros que derramo
Dentro de mim.
Expressam a correnteza que passa
As coisas que vão e
As coisas que por algum tempo
Ainda ficam."

compartilhoooooo!!!!