sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

O novo jarro do velho museu 2

Com que freqüência os símbolos tradicionais de uma sociedade global tendem a mudar de significado? Constantemente um sentimento de mudança bruta, mesmo que natural, tem tomado conta de meus pobres receptores sensoriais. A maioria dessas mudanças parecem não fazer parte do meu tempo, como se o que se foi já se foi a algum tempo e que não vivi o suficiente daquilo pra sentir saudade e o que veio veio rápido demais, de forma que me pegou meio de surpresa e ainda não me adaptei. Talvez eu é que seja lento demais para perceber que essas mudanças sempre ocorrem e que eu vivi o tempo necessário pra me sentir nostálgico como qualquer outro e que a surpresa que me acomete só é surpresa por conta de uma ignorância que guardo e que de vez em quando ponho em uso.
Falo de tradições porque estamos vivendo uma época de muito significado (ou não). O Natal, por exemplo, é um desses símbolos tradicionais que tenho visto mudar de forma incrivelmente cômoda. Há alguns anos atrás, todo o mês, os dias que previam essa data e os dias pós Natal eram alvamente adocicados com toda magia e felicidade esperançosa que se poderia caber dentro de um coração. Junto desse fervor, amontoavam-se pilhas e mais pilhas de embrulhos vistosos aos pés de uma mais que radiante árvore morta-feliz. O tempo passa e foi passando até chegarmos num ponto onde toda essa balela enjoativa de esperança e amor são meros mitos e que o que realmente importa é o conteúdo das antigas pilhas de embrulhos vistosos, hoje nem tão vistosos, já que o mais interessante é ver a pilha cada vez maior.
Assim o Natal ganhou um significado a mais, ou trocou de significado, ou melhor, começou a significar mais pra uns do que para outros. Significa mais para os pais que TEM que comprar presentes para os filhos( mesmo sem ter dinheiro) por que se não não tem natal; significa mais para as pobres crianças que não vão ganhar nada de natal e que no fim, essa data só vai ser um dia a mais, com um pouco menos de fome por conta de uma caridade; significa mais ainda pra toda a gama de pessoas cheias de amor no coração e que são donas de lojas ou de empresas, seja elas quais forem, pois na época do natal, tudo se compra e tudo é vendível...no fim a semana desemboca num outro momento que não se sabe qual é o significado, o Ano Novo. Dele só se espera uma coisa, um pouco mais de dinheiro e um pouco menos de miséria. Por que a miséria não deixa o pobre comprar( ou melhor, gastar o que tem e o que não tem) e se ele não compra, como é que o rico vai ter um pouco mais de dinheiro?
Tudo muda, até a surda-muda! Todo esse devaneio acabou de me dar um teco na cabeça e dizer que, claro, o meu ponto de vista, desde que eu tinha 10 anos cresceu no mínimo 30 centímetros. Como posso querer que tudo signifique a mesma coisa se eu mesmo já não significo quase nada do que significava?

2 comentários:

Eterna Primavera disse...

perturbador²

Pedro Ivo disse...

É de se parar e refletir... Suas postagens me deram um novo gás.

Saudades, meu amigo.